Piper: a Pimenta que não arde

Plantas do gênero Piper são muito comuns em sub-bosques da mata atlântica brasileira. Especialmente em áreas úmidas, ou sombreadas, encostas de serra, formam grandes grupos de touceiras. Só no Brasil, temos 289 espécies de Piper, sendo 183 endêmicas, ou seja, só existem aqui.

Em meus primeiros trabalhos de botânica de campo, ficava curioso quando os professores chamavam de “pimenteira”, as plantas de flores pouco vistosas (atraentes), e folhas alongadas, com base aguda, e nervuras bem evidentes. São inconfundíveis, especialmente ao analisar seus caules com nós marcados, e pelas inflorescências em espigas de tons de verde-claro, brancas e até negro-arroxeadas.

Então, ao estudar taxonomia vegetal, passei a investigar mais a fundo o nome das plantas e o porquê da aplicação de cada um. E descobri que em 1753, o famoso Lineu (não Seu Lineu da grande família) - e para os íntimos L.; propôs o gênero Piper no seu livro Species Plantarum (a pedra fundamental da taxonomia de plantas). 
Piper, vem do grego antigo (péperi), significa a grosso modo: flauta, tocador de flauta ou flautista. Logo, o nome deste gênero poderia estar prestando uma homenagem para algum fragmento da mitologia grega, que remete à flauta.
Não sou historiador, tampouco especialista em mitologia, apenas um Biólogo curioso para saber as origens dos nomes das plantas. Dou um pitaco aqui, que esse nome possa ter surgido a partir da característica dos caules das espécies de Piper, cujo aspecto segmentado, lembra as partes que compõem as antigas flautas de Pan (uma divindade grega). 
Porém, uma busca mais aprofundada, aponta que Piper pode também ter vindo do Sânscrito: Pippali, e remete à pimenta-longa, uma erva indiana da qual usa-se as inflorescências em forma de pequenos cones, muito utilizada pelos efeitos medicinais. E essa inflorescência alongada, que após seca fica negra e é de uma planta comum nas matas úmidas tropicais da Índia, conhecida pela ciência por Piper longum L.
Logo, meu caro leitor, a popular pimenteira dos sub-bosques brasileiros que tanto me intrigava, tem sim seu histórico “apimentado”, de um período anterior às navegações.

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