Conselhos para estudantes de Biologia

    É comum não estarmos atentos à nossa formação de Biólogo, especialmente quando ela ainda está no começo. Muitos dos cursos de Ciências Biológicas (vou tratar como Biologia) pelo Brasil afora, aparentemente dão maior ênfase ao número de ingresso de estudantes e às notas de ENADE, do que propriamente à formação do profissional. Essa afirmação pode soar como presunção de minha parte, mas é refletida no mercado: biólogos pouco preparados, desconhecem metodologias de trabalho, profissionais que precisam de muito treinamento para atuar nas empresas, vagas com baixa remuneração, e desvalorização da profissão diante das demais áreas correlatas. Esse cenário todo é apenas mais um sintoma de uma doença grave que atinge a área da Biologia: desmantelamento da profissão. Não apenas do governo, mas das universidades que ofertam os cursos, dos conselhos, das iniciativas privadas e dos próprios profissionais (tema para outra postagem).
    Uma forma de driblar esse aspecto negativo é olhar para nossa formação como a formação de um atleta olímpico: inicia os trabalhos de base muito jovem, compete em diversas categorias, especializa-se em algumas, muito treino, foco, orientação e tempo. Conforme o atleta cresce e amadurece, seu nível melhora, e os frutos de tanto trabalho vão surgindo até chegar o dia de competir pela medalha olímpica. O biólogo é um tipo de profissional que melhora com o tempo e aperfeiçoamento. Início de carreira é muito difícil, principalmente pela falta de orientação e mentoria por profissionais mais experientes.
    

    Portanto, para o jovem estudante de Ciências Biológicas que está em dúvidas quanto ao curso que está cursando, seguem alguns conselhos os quais eu gostaria de ter recebido ainda na graduação.

I. Estude todos os conteúdos de Biologia, mas priorize um deles para sua formação.

    O curso de Biologia é muito vasto. Estuda TODAS AS FORMAS de vida do planeta, sua organização, estrutura, evolução e relação com as demais. Do ponto de vista curricular, é impossível abordar todos os tópicos de forma efetiva e prática em 5 anos de formação. Porém: as aulas dos conteúdos precisam ser dadas, o MEC exige isso. Cabe ao aluno, ali pelo terceiro, quarto semestre, começar a definir o que gosta e o que não gosta de estudar, pensando na aplicabilidade e empregabilidade.
    Mais fácil é decidir o que não gosta: muito cedo eu decidi que não gostava de microbiologia e parasitologia. Estudei, cumpri as disciplinas e me dediquei a estudar o que tinha mais paixão: botânica e ecologia. Isso me garantiu uma base mais sólida para ir atrás de emprego nas áreas correlatas, mostrar minhas habilidades e demonstrar facilidade em aprender coisas novas. Então jovem em formação: foque em algumas áreas da Biologia para sair da inércia do recém-formado sem aptidão.

II. Faça cursos de aperfeiçoamento

    Alguns cursos de graduação Biologia possuem currículos engessados, com disciplinas consolidadas para a formação de um profissional de perfil generalista. Dependendo da gestão da Universidade ou coordenador(a) muitas matrizes acabam se tornando desatualizadas em relação às demandas da sociedade e do mercado de trabalho. O jovem estudante acaba ficando preso nessa perspectiva curricular, alheio apenas ao que o curso oferece.

    Dentro deste cenário, cursos de aperfeiçoamento, treinamento, são excelentes oportunidades para o estudante aprender novas atividades ou metodologias, ter uma visão diferente da visão do professor, fazer networking e construir contatos profissionais. Atualmente há uma grande diversidade de cursos voltados para diferentes áreas de formação e especialização, de valores acessíveis que podem ajudar a você, estudante, a se qualificar para o mercado. Dêem preferência para os cursos que oferecem certificados e comprovantes, como nas plataformas do MEC, IF, Hotmart, Udemy, entre outras.

III. Cobre para ter mais aulas práticas

    Sim. Cobre do seu professor e curso pelas aulas práticas. Desde aquela saída a campo que vai sendo adiada o semestre todo, uma aula de laboratório que foi realizada em sala, uma visita técnica que não ocorreu…são diversas situações que vão ocorrendo e afetam sua formação como profissional. Ninguém está livre de percalços, o clima pode não ser favorável para uma saída a campo, há uma limitação de espaço para atividades práticas, e claro, o orçamento do curso e da turma/aluno.

    Lembro que no meu primeiro semestre, deixei de fazer uma saída a campo pois não consegui folga da empresa a qual trabalhava. Essa saída acabou comprometendo meu contato com ecossistemas costeiros, e para compensar e não zerar na atividade precisei escrever três relatórios distintos, para cada disciplina que estava associada à saída de campo.

    Meu conselho para você, que está na faculdade de Biologia, é sempre participar das atividades práticas (quando disponíveis), e cobrar por mais aulas práticas do seu coordenador/professor e curso. Biólogo sem contato prático da teoria que tanto lê nos livros e artigos, já sai com defasagem na disciplina. Como cobrar desse profissional uma habilidade de leitura de manipulação de reagentes? Como esse profissional vai fazer uma análise de tecidos sem domínio de microscópio? Como vai a campo para coletar dados ambientais, sem sequer saber para onde olhar? Então estudante: cobre por mais atividades práticas, é seu direito.

IV. Domine uma Habilidade para o mercado de trabalho

    Para aqueles que estão nos primeiros anos da graduação isso pode não fazer muito sentido, mas para a galera que está na metade final do curso vai tocar mais fundo. Ao longo de toda graduação, o estudante de biologia se depara com disciplinas de maior aplicabilidade no mercado, como análise de qualidade de água, análise de dados ambientais, técnicas de biologia molecular, práticas laboratoriais, cultura de tecidos vegetais, animais, qualidade de alimentos, fitopatologias, etc.. Muitos destes conteúdos são abordados ou em aulas práticas, em saídas a campo, ou em minicursos, e são fundamentais para o aprendizado do aluno. Aprender e dominar alguma destas técnicas pode se tornar um grande diferencial no mercado de trabalho, pois assim ao sair da graduação (ou ainda nela) esse profissional possui um melhor direcionamento e nicho de atuação.

    Eu sei que é complicado com toda a rotina de estudo, trabalho, vida pessoal e ansiedades, dedicar-se para uma habilidade. Mas vão por mim, é importante saber dominar uma habilidade muito bem. As empresas estão sedentas por profissionais que saibam o que estão fazendo, sem precisar de muito treinamento.

    Tive muitos colegas que durante a graduação não se destacavam em nenhuma matéria, porém nas análises e ensaios laboratoriais eram maravilhosos. Resultado que, ainda na graduação, enviaram seus currículos para empresas do ramo e já ingressaram em bons empregos a partir do conhecimento prático adquirido. Na área da consultoria ambiental, também não é diferente. É muito comum o pessoal entrar “verde”, em outras palavras: sem experiência ou conhecimento algum, e levar algum tempo para amadurecer e achar seu espaço, enquanto isso, aqueles que tiveram vivência mais dedicada durante a graduação, entram no ramo melhor direcionados e com mais maturidade profissional. Assim colegas, procurem dedicar-se muito bem em uma habilidade prática específica dentro da Biologia, para terem melhores oportunidades no mercado de trabalho.


V. Escolha bem o tema do seu TCC

    O TCC é o momento mais tenso de todo o curso de graduação. Independente de qual seja sua escolha, é um período importante para o aluno, pois o TCC é uma espécie de resumo de todo seu aprendizado e durante o curso. A aprovação ou reprovação, do meu ponto de vista, são meras formalidades, pois o importante é o que esse estudante está levando de conhecimento para a carreira profissional.

    Escolher bem o tema do TCC na Biologia depende de algumas variáveis, entre as principais estão a área de interesse para pesquisa, a disponibilidade do orientador, a aptidão do aluno e o aprendizado para atuação. É necessário que o estudante busque um alinhamento entre esses pilares na hora de escolher o tema de seu trabalho.

    A escolha da área é algo que nasce dentro do coração do estudante nos primeiros semestres. Já a orientação vai depender das boas relações com o corpo docente e da disponibilidade dos professores; não descarte chamar um coorientador de fora da universidade para contribuir, pois pode engrandecer e muito seu trabalho. Além disso tem o aspecto da sua aptidão, que vai ser construída, e o produto final: o aprendizado para atuação.

    Neste aspecto, cabe aqui meu conselho: dê uma conversada com teus colegas formados, os já empregados, ou com profissionais que estão atuando como Biólogos, e busquem saber o que o mercado precisa. Qual profissional está faltando na Biologia? Aí meu caro escreva um projeto de TCC que costure essa necessidade de aprender um método, interpretar um conjunto de dados, com seus desejos de área e conhecimento. E colocá-lo em prática. Importante aqui é que no seu TCC passe a realizar questionamentos que não fiquem restritos apenas à ciência de bancada, mas que te garantam uma bagagem que possa levar ao mercado junto do seu currículo.



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